O Dia Internacional da Rapariga, celebrado a 11 de outubro, lembra-nos que a igualdade de oportunidades é um desafio complexo e multifatorial que exige mudanças profundas e consistentes ao longo do tempo: transformar sistemas e culturas e enfrentar, de forma estruturada e prolongada, fatores sociais, culturais e educativos que se reforçam entre si. Num mundo moldado pela tecnologia, excluir raparigas do digital é perder talento, reduzir a qualidade das soluções e perpetuar desigualdades. A diversidade não é apenas uma bandeira, é vantagem competitiva e motor de inovação.
A sub-representação das mulheres nas STEM, em particular nas TIC, atravessa todo o percurso educativo e profissional e não resulta de “falta de vocação”, mas de condicionamentos estruturais. O contexto molda interesses, competências e perceções: estereótipos de género e normas sociais diminuem a auto-eficácia; a ausência de role models limita a ambição; currículos pouco integrados e práticas pedagógicas convencionais travam a exploração; e muitas pessoas da comunidade educativa carecem de formação para aplicar uma pedagogia STEM sensível ao género, com ferramentas que apoiem práticas e influenciem positivamente interesses de jovens. Em casa, crenças e expectativas familiares podem abrir portas ou reforçar barreiras desde muito cedo.
Na União Europeia, cerca de 19,8% das pessoas especialistas em TIC e aproximadamente 35% das pessoas diplomadas em STEM são mulheres. No ensino superior, a participação feminina ronda 21% em engenharia e 14,6% em TIC. No ensino secundário, apesar de desempenhos semelhantes entre rapazes e raparigas, o interesse pelas STEM mantém-se inferior entre raparigas — o problema não é de capacidade, é de contexto.
Com esta perspetiva multidimensional, o Technovation Girls Portugal (TG) afirma-se como programa global com intervenção articulada nas dimensões familiar, escolar e comunitária, colocando as raparigas no centro. Presente em 120 países, capacita jovens dos 8 aos 18 anos a conceber soluções tecnológicas com impacto social. Através de uma abordagem interdisciplinar e metodologia de projeto, combina programação, design thinking, empreendedorismo e soft skills, nos quais as raparigas identificam problemas reais nas suas comunidades, definem desafios, prototipam, testam e apresentam publicamente as soluções perante júri, famílias, docentes e mentores/as.
Ao longo do percurso, desenvolvem competências técnicas e socioemocionais (criatividade, colaboração, comunicação, pensamento crítico e liderança) num ambiente que valoriza o erro como motor de aprendizagem e reforça pertença, confiança e trabalho em equipa. Este tipo de programas ligam tecnologia, empreendedorismo e soft skills empoderam as raparigas, dão-lhes voz no digital e fomentam a cidadania ativa.
Nada disto acontece sem mentoria, através do voluntariado corporativo e parcerias sólidas. A rede de entidades parceiras, escolas, autarquias, universidades, empresas e organizações locais, acompanha equipas, garante recursos e acesso e permite ao projeto alcançar cobertura nacional, com foco em contextos descentralizados e vulneráveis, onde o afastamento de STEM/TIC é mais acentuado.
O impacto do Technovation Girls Portugal tem sido reconhecido publicamente: foi distinguido com o Women Shaping Tech, promovido pela APDC, com o apoio de 12 empresas e é um dos 10 finalistas do Prémio Sonae Educação. Estes marcos reforçam a motivação e a responsabilidade de chegar a mais raparigas, especialmente onde o acesso é menor. Mais raparigas em tecnologia significam soluções mais relevantes; mais diversidade traduz-se em maior capacidade de aproveitar o potencial de cada pessoa.
A igualdade de oportunidades é um percurso complexo que requer políticas sólidas e o envolvimento de empresas, associações e setor público. Não se corrigem desigualdades estruturais com medidas isoladas, é fundamental estratégias integradas e de longo prazo, capazes de alterar práticas, expectativas e estruturas, criando um ecossistema de atração, promoção e retenção do talento feminino.
Deixo aqui um convite a todas as entidades:
Se a sua organização acredita no potencial da diversidade e quer acelerar o talento feminino, junte-se ao programa Technovation Girls, mobilizando mais raparigas, mentoria das equipas, promovendo talks e participando em eventos temáticos permitindo escalar impacto por todo o país.
Investir neste projeto é investir em talento, inovação e futuro para que nenhuma rapariga fique de fora do futuro que está a escrever.
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